Rolando o feed das redes sociais, você, caro leitor, que segue perfis literários, pode ter visto que, nos últimos tempos, surgiu uma nova polêmica: livros para ler em uma “sentada“ e o apagão da leitura de livros longos, os famosos calhamaços.
E, desde já, aviso que estou muito “cricri” e azeda neste texto porque são meu tipo favorito de livro e eu os defenderei com unhas, dentes e palavras.
Tudo pelas metas de leitura
Livros ditos “para leitura rápida“, “para ler em um dia”, normalmente são curtos, que não ultrapassam duzentas páginas — talvez eu esteja sendo generosa —, além de terem enredos fáceis de assimilar; supostamente, leia de novo. Isso se deve a vontade de ler textos rápidos para otimizar o tempo afim de ler em maior quantidade, tendo relação com a questão das metas de leitura cada vez mais impossíveis, onde até mesmo a leitura é defasada em função da velocidade dos tempos modernos.
Aqui, novamente, pontuo essa questão das competições para que se leia mais, sendo ou não clássicos, com finalidade de um exibicionismo.
Não sou contra metas ou lista de leitura, apenas da maneira como elas são utilizadas. Tudo, absolutamente tudo hoje em dia sugere que haja competição para existir; sempre haverá alguém que vai ler mais do que você, mais rápido do que você e qual seria o grande problema nisso?
Menor é melhor?
Observo que, em diversos posts do tipo, existem indicações de leitura de livros clássicos de autores renomados como Clarisse Lispector, Fiódor Dostoiévski, Liev Tolstói, Carla Madeira — apesar do sucesso recente, tem cheirinho de clássico no futuro —, o próprio Machado de Assis, entre outros. Há muitas pessoas que dão início a leitura dessa estirpe de livro e não dão conta, pessoas inclusive que tem birra com Machado de Assis desde o ensino médio, por exemplo.
Nâo são livros fáceis, definitivamente.
A qualidade ou a densidade de um livro estão absolutamente desprendidas de sua quantidade de páginas. Ler para distrair, como uma forma de calar a voz interna que nos perturba vez ou outra — ou sempre — não merece julgamento, independentemente do tipo de obra escolhida e também o motivo dessa predileção.
No entanto, é criticável e passa pelo crivo da opinião pública — obrigada pelo bordão, Andressa Katty — quando se expõe esse tipo de comportamento: ler para cumprir uma lista por determinada quantidade, sem exigir a si mesmo um passatempo, uma distração, uma diversão literária com a qualidade de sentar para, de fato, ler.
O que nós, que consumimos conteúdo literário nas plataformas de redes sociais devemos nos perguntar é: quem lê trezentos livros em um ano, ainda lê artigos e produz tais conteúdos de indicação desse tipo de leitura, para ler de uma vez, de fato lê? Essa pessoa, a quem confiamos para nos indicar algo que podemos colocar em nosso gosto, realmente gostou tanto do que leu a ponto de o fazer de forma rápida?
Porque, sim, existem livros que nos inebriam a tal ponto e cada um terá seu calcanhar de Aquiles para descobrir quais seus estilos e gêneros favoritos. Mas, isso, até mesmo um calhamaço pode fazer.
Uma chance aos calhamaços
Estes são os livros que a minha geração tinha orgulho de ostentar e, não, eu também não acho saudável ostentar a leitura de tais obras apenas pelo ato em si.
Mas, existem obras fáceis de ler, menos densas e ainda assim profundas, que causam a primeira impressão de serem difíceis por conta de seu tamanho e, claro, isso assusta também; seja pelo medo de não gostar e abandonar a leitura, seja por receio de começar e não dar conta por questão de tempo.
Calma, a leitura não é algo para se ter pressa e grandes livros — os literalmente grandes — não são um bicho de sete cabeças, muitos contém histórias que você, se não os desse chance, jamais poderia sonhar conhecer e aproveitar. Serve inclusive para aquelas pessoas que tem ressacas literárias, olhando pelo lado bom, o livro leva mais tempo para acabar.
Assim como livros com menos páginas, eles também tem uma mensagem a passar, seja por entretenimento ou realmente algo que ensine e agregue.
Dê uma chance aos calhamaços, eles são e ainda serão uma fonte de conhecimento, diversão e paciência, no seu tempo.
Você já leu algum calhamaço?
Me conta aqui nos comentários qual você leu e qual indica.
Obrigada por ler e até a próxima!